terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Uma vida em um ano com minha avó

Palavras-chave: Mal de Alzheimer, memória, confusão mental.


Eu tenho aquela imagem santa que a maioria das pessoas tem das avós. Para mim, elas sempre representarão algo sereno e sincero. Neste primeiro tópico vou escrever sobre minha avó materna. Foi uma pessoa fantástica apesar do gênio: o gênio de escorpião...sem mais! Rs.... Minha avó faleceu com 94 anos e um ano antes ao falecimento, morou comigo e com meus pais.

Acredito que todo mundo quer que os avós morram lúcidos, ou melhor, a gente nem quer que eles morram, queremos os velhinhos conosco por toda a nossa vida, e ta ai nosso egoísmo, ou o carinho, semente que eles mesmos plantaram! Pena que tal fato seja impossível.

Minha avó faleceu lúcida, quer dizer, mais ou menos lúcida. Um dia ela me confundiu com um anjo, e de anjo, realmente não tenho nada! Porém, gostei da denominação! Neste caso, prefiro acreditar em sua lucidez!

De qualquer forma, à medida que envelhecemos, sofremos perda de células cerebrais, e este é um processo natural, porém, tal processo pode ser acelerado ou agravado por algum tipo de demência, como por exemplo, o mal de Alzheimer. De acordo com RIBEIRO (2008) o mal de Alzheimer atinge, sem restrições de sexo, cerca de 10 a 20% da população com mais de 60 anos.

Segundo SHIMODA et al (2003), esta doença foi descrita pela primeira vez pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer, que identificou a existência de proteínas beta-amilóide nos espaços entre as células nervosas, interferindo nas funções normais do cérebro.

Além disso, a doença causa uma perda de células nervosas no cérebro, na região do núcleo basal de Meynert. Região rica em acetilcolina (neurotransmissor), importante para a formação e a recuperação de memória.

O mal de Alzheimer é uma doença que não apresenta cura, mas como dizem os médicos “existem doenças incuráveis, porém não existem pacientes “intratáveis”.

Inibidores da acetilcolinesterase, medicações que inibem a enzima responsável pela degradação da acetilcolina, são comumente utilizados, pois a deficiência de acetilcolina é considerada epifenômeno da doença de Alzheimer (SHIMODA)

O exercício físico acompanhado por um profissional promove também bons resultados, uma vez que aumentam a capacidade de aprendizado e auxiliam na redução da formação das placas de proteínas beta-amilóide (SHIMODA).

Minha avó não teve diagnóstico de Alzheimer, mas muitas coisas ela esquecia, ou confundia. A começar a distinguir o anjo da vanessinha aqui!...rs....As vezes ela trocava o nome e eu gostava quando ela me chamava de Jolie!..ta ta....ela nunca m chamou assim!...pena, mas fico com o anjo então!

Vovó passou seu último ano em minha casa, dormindo em meu quarto. Ela rezava a noite inteira! Mas não era apenas o Pai nosso, era o terço, e em voz alta. Terminado o terço ela ia dormir, mas acordava de hora em hora pra fazer xixi e lá ia eu acordar para levá-la ao banheiro.

Ela acordava cerca de 5 horas da manhã e adivinhem para quê? Para rezar o terço de novo.....e lá íamos nós para a reza...Pessoas com Alzheimer muitas vezes se esquecem das necessidades diárias, como tomar banho, mas minha avó não esquecia. Depois do terço ela sentava na caminha dela e fazia barulhos pra eu acordar e dar banho nela. Era sempre uma aventura! Ela gostava de lavar a cabeça e principalmente dos moicanos que eu fazia, imaginem uma velhinha de olhinhos azuis e de moicano?...e assim ela ficava toda cheirosinha desde a madrugada!...

As vezes ela tinha alguns ataques severos de memória ou de confusão mental, período em que as danadas das proteínas beta-amilóides entravam em ação.

Uma vez ela acordou no meio da noite dizendo que estávamos em uma enchente e q eu precisava levantar porque a água ia me levar, mas não havia água alguma, a não ser o xixi q ela fez no chão e eu certamente pisei, quando levantei descalça.

Muitos dias ela acordava sem a dentadura. Eu dizia a ela pra tirar antes de dormir porque os dentistas recomendam, mas quem disse que ela m ouvia? Os velhinhos tem tanta personalidade não é?...ou...teimosia!!! Ela dormia com a dentadura, mas todo dia de manhã ela acordava a procura da mesma e quase sempre estava embaixo da cama! Não sei quando e nem o porquê ela tirava, só sei que aparecia sempre embaixo da cama.

Uma vez ela acordou com a boca estranha e nem falava direito. Nesse dia surtei, a gente sempre pensa o pior. Ela falava enrolado ai pensei: Pronto...derrame! Mas olhei bem pra boca dela e percebi que seus dentes superiores estavam um pouco pequenos....sim, ela trocou a posição..incisivos superiores no lugar dos inferiores e vice versa. Até que ficou engraçadinha.

De todos os acontecimentos, o mais traumático para mim foi o dia que ela me confundiu com a privada! Isso mesmo, eu estava dormindo quando escutei um “barulhinho”, eu já estava até com minha audição apurada, minha sorte, porque quando abri meus olhos, vi uma imensa “lua branca” quase sentando na minha cara! Nem mesmo sei como consegui levantar com tanta rapidez. Rapidez o suficiente para não morrer de asfixia. E Ela ainda me disse: eu só queria fazer xixi!....ah claro....o banheiro seria o melhor lugar não é mesmo vovozinha!?!?!?

É, a vida ao lado da vovó renderam muitas risadas! E muita satisfação, tínhamos muitas conversas e eu contava tudo pra ela, na maioria das vezes ela esquecia, o que era bom algumas vezes.

Incrível como estes velhinhos fazem falta na vida da gente....sinto saudades até da “lua branca”! Mas o que mais me faz falta é o calor dos abraços, mas que ainda consigo guardar e sentir a essência em minhas lembranças’.




Bibliografia

RIBEIRO, R. Alzheimer – Que doença é esta?. Revista espaço acadêmico, n° 91, 2008.

SHIMODA, M. Y; DUBAS, J.P; LIRA, C. A. B. O exercício e a doença de Alzheimer. Centro de estudo de Fisiologia do Exercício – CEPE. Texto baseado em RIMMER, J.H. Alzheimer disease. In: DURSTINE, J.L; MOORE, G.E (org). ACSM’s Exercise management for persons with chronic diseases and disabilities. 2 nd edition. Champainh, IL: Human Kinetics, 2003, p 311 – 319.

8 comentários:

  1. Ai eu fiquei emocionada com esse texto e com as historia veridica,eu sei pq acompanhei a vida de violetinha nesse ano e que ela morou com vcs,nossa e me lembro que ela não me reconheceu uma vez,haha chegou a ser engraçado esse dia,mas sinto mto falta dela,como sinto falta de minha vovo,Vanessita amei o seu blog lindo ja sou fã dle ja coloquei nos meus favoritos,e agora entro todo dia hehehe lndo lindo

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  2. Ahhh.....Nessinha minha lindaaaa !!! como eu te disse, quanta saudade dá da baixinha Violetinha...hihi!! sabia que ela fazia uma "omelete de batata frita" pra mim e até bem velhinha ela não esquecia que eu gostava ? hihi !! que privilégio a ter conhecido !! e à sua família !! e ser sua amiga !!! Deus te abençoe e parabéns pelo blog lindinho !!

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  3. muito bacana van! é de emocionar mesmo! fiquei lembrando das avós que estão por ae! escreva mais quando puder!
    beijos

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  4. vou tentar comentar uma outra hora, agora não dá sabe. Não estou conseguindo me controlar agora, sinto mais do que saudades dela...

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  5. Bonequinha da titia, com certeza sua avó junto com minha mamãe estão rindo muito ao saberem que "PAM PAM" agora virou "LUA". E com certeza Violetinha está mais orgulhosa ainda por essa "crônica homenagem" que o "anjo" dela escreveu. bjs.

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  6. Lindinha da titia, li sua crônica de nº3, e vc. descreve a "intimidade" de uma forma que me sinto espremida dentro de uma coletivo com muitas fungadas no meu pescoço. Nessa época de gripes e dengues, sem querer ou querendo, sua "intimidade" virou um alerta. Espero que muitos leiam e tomem consciência do que essa intimidade é capaz. (das bundas e peitos, melhor nem comentar hihihi) grande beijo.

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  7. Lindinha da titia,sua rápida crônica de nº4 é mais um lamento pelas condições do transito em SP. do que propriamente uma crônica. Lamento pelo "Azul Calcinha" ele só está ficando "crocante", .Quanto a vc., continue com muita calma que a caganeira num volta e talvez o "motorista peludo", tambem tenha tido uma longa diarréia, nunca se sabe nè???? beijos da titia

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